sexta-feira, 1 de maio de 2015

Reflexão sobre a agressão ao professores (Parana, 29 de abril de 2015?)

Angelica Hoffler
Psicanalista e professora
cel. 9 9471-4591
e-mail  angelicahoffler@gmail.com

O brutal ataque aos professores do Paraná no dia 29 de abril de 2015 escancarou, a quem quis ver, a agressão a que professores de todo o país se sentem submetidos no dia a dia.

A visibilidade dada aos professores, enquanto grupo, só é ocorre em data comemorativa (e comercial) ou quando saem às ruas em greve. Um professor é visto como aquele que ensina o filho de alguém, visto nas reuniões, quando o pai ou mãe comparece, ou quando lhe é pedido algum encontro para comunicado ou reclamação. Muitas vezes nem se sabe seu nome. É o professor de tal componente curricular. Nem tem identidade.
Aproximemos esse olhar sobre os professores. Pensemos primeiramente naqueles que saem às ruas em greve e em duas pautas sempre presentes em suas reivindicações: melhores salários e redução de alunos por turma. Sim, há nisso uma reivindicação por uma política pública voltada a uma educação mais efetiva. Mas também uma demanda voltada a um tipo de sofrimento. Baixo salário repercute diretamente na qualidade de vida do professor. Acumulando períodos para ter um salario que o sustente (e isso significa pagar as contas básicas, uma vez que quem escolhe ser professor já sabe que não ficará rico com isso!) se desdobra para conciliar família, preparo de aulas, correção de atividades, preenchimento de papéis. E o professor aprende a abrir mão. Por vezes, abre mão de tantas coisas que se perde a si mesmo. E sem saber onde está, como pode dar-se um lugar no papel que escolheu ter como educador? Outra demanda, a redução de alunos por turma, reverbera num excesso e numa falta. Excesso de alunos significa falta de singularidade. Ao reduzir o aluno a um número, como tratá-lo como sujeito? Entrando e saindo de 15 salas com 45 alunos por turma, todos os dias, como perceber as necessidades que cada aluno tem e auxiliá-los no processo educativo? O professor muitas vezes começa sua carreira achando que pode mudar o mundo (ok, há um impossível nesta fantasia) e logo se depara com um fracasso que o machuca, que o marca e que muitas vezes faz com que desista da profissão que escolheu.Ou faz com que adoeça. Professores que adoecem também sofreram uma agressão. Não a visível com bombas, gás lacrimogênio, spray de pimenta ou balas de borracha. Mas algo que os agrediu tão profundamente que marcou seu corpo ou seu psiquismo de forma indelével. Basta olhar as estatísticas de professores realocados na educação ou dos que largaram a sala de aula. 
Mas há outra faceta que não vem a público. A dos professores de escolas particulares. Estes sofrem silenciosamente. Não tem foto estampada nos jornais, nos noticiários. Seu nome aparece nos prontuários médicos e não entra nas estatísticas. Os professores das escolas particulares nem sempre enfrentam problemas com lotação de salas ou baixo salários (reforço: nem sempre). Mas são amarrados naquilo que os torna desejantes: tem que cumprir o programa, tem que dar avaliações assim ou assado, tem que trabalhar com apostilas desde o maternal (!!!!!!), tem que respeitar o aluno e fazer as vontades dos pais uma vez que "eles pagam seu salário". Tantas vezes se encontram entre o que o aluno quer, o que os pais pedem e o que o coordenador/ diretor manda. O que ele deseja fica sempre em último. Sente-se impotente, humilhado, fraco, triste. Como um um robô executa ordens. Mas sente e sofre como um humano. Até que o que sente arrebenta e explode. Na ficha do psiquiatra. 

As políticas públicas sempre se voltam para a "qualificação" do professor. Cursos de "reciclagem", para pontuação na carreira, são oferecidos de monte. E lá vai o professor fazer mais do mesmo. Mas quem olhar para um professor e vê nele alguém que sente, que tem conflitos e tem o direito de sofrer e falar do que o assola? Qual é o espaço dado para o professor SER humano nas escolas destes país? Sempre que se diz que o futuro da Educação está nas escolas, sinto mais peso colocado nas costas destas pessoas que escolheram educar. O professor, enquanto é visto como herói e isso que se espera dele, sofre como um ser humano. E precisa ser reconhecido em sua singularidade, não só como categoria.